segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Normose – a doença da normalidade



Normose é um conceito recente, criado e desenvolvido pelo padre e filósofo francês Jean-Yves Leloup. É caracterizada por um conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar e de agir que são aceites e adoptados pela maioria das pessoas de uma determinada sociedade, e que levam a um estado amorfo de ser e consequentemente ao sofrimento, à doença e em última instância à morte. Por outras palavras, a normose é uma normalidade doentia.

Foram já identificados vários tipos ou graus de normose mas há uma característica comum, que é o facto de ser automática e inconsciente. 

Quando se fala de “espírito de rebanho” é da normose que se está a falar. Dentro da normose vivem as “massas”, porque, por preguiça, conveniência ou simples conformismo seguem o exemplo da maioria. Não há questionamento do status-quo, não há investimento no Eu profundo e diferenciador. Vive-se uma espécie de torpor ou adormecimento. O individuo têm a ilusão de que conduz a sua vida mas em vez disso deixa-se conduzir.

A normose é muitas vezes, sábia e perversamente, utilizada pelos media, para disseminar ideias, opiniões e comportamentos, através de uma manipulação subtil e até subliminar mas eficaz. De tal forma que o individuo nem se apercebe de que está a ser manipulado. Neste sentido, a normose é uma forma de alienação.

Quem vive imerso na normose, vive num estado ilusório de liberdade e expansão, visível apenas no exterior mas nunca no interior do ser. Assim, o individuo tem a ilusão de que é livre apesar de os media lhe influenciarem a escolha de marcas, produtos e estilos de vida; e vive a ilusão de expansão na medida em que vai progredindo na carreira, engrossando a conta bancária, ou coleccionando bens materiais, apesar de tudo isso o afastar de si mesmo e da verdadeira expansão interior.

No seu livro “A Loucura da Normalidade” , Arno Gruen já nos alertava para esta situação, ao escrever: ”A conformidade com os valores e formas estabelecidas, em desrespeito pela própria vida interior, é uma fonte inesgotável de violência diária.”

De facto, se reflectirmos um pouco, e dando apenas dois exemplos, até que ponto é que a destruição do meio ambiente e dos ecossistemas, por mais lucrativa que pareça num curto prazo, pode ser considerada um comportamento saudável? Até que ponto é que a ditadura do masculino – imposta  pela nossa sociedade patriarcal, que pressupõe a negação da energia feminina e a repressão da intuição e dos sentimentos – nos devolve a um estado equilibrado de ser? No entanto, estes hábitos e comportamentos são aceites pela maioria, mas, como dizia Krishnamurti “Não é sinal de saúde estar bem ajustado a uma sociedade profundamente doente.”

Felizmente vamos assistindo ao surgimento de pequenas ilhas de esperança, através de grupos, indivíduos, projectos e iniciativas que nos mostram alternativas e que vão agitando um pouco as águas deste marasmo social, caracterizado por comportamentos doentios que se foram cristalizando  até se tornarem “normais”. 

A tomada de consciência da normose é o ponto de partida para a cura. Para a busca de formas de ser e de estar mais saudáveis e equilibradas, para o resgate da verdadeira individualidade e autenticidade. É também o ponto de partida para um questionamento saudável das normas, opiniões e comportamentos que adoptamos como nossos.

Importa dizer que, para sair de uma normalidade doentia e há muito enraizada, é preciso uma boa dose de coragem, auto-estima e determinação. É preciso muitas vezes trocar o certo pelo incerto e não parar de questionar: Quem sou eu? O que faço aqui? Qual o sentido da vida? Qual o propósito da minha vida? Porque faço esta escolha? Estou verdadeiramente a escolher ou a imitar outros? Tenho mesmo esta opinião ou foi apenas algo que ouvi de várias pessoas?...

Alguns poderão dizer que este é um caminho difícil. Concordo. Mas só quando aprendemos a questionar o exterior e a ouvir a voz interior é que nos tornamos livres e entramos no caminho da verdadeira sabedoria.

Não seja "normal", seja único e igual a si mesmo!
Afinal, se Deus nos criou todos diferentes e originais, não foi certamente para que nos tonássemos cópias uns dos outros, não acha?

Abraçe a Vida!