O fato-e-gravata mais a pasta-do-portátil, saem para a rua
todas as manhãs, para mais um dia de trabalho. Depois encontram-se com outros
fatos-e-gravatas e fazem reuniões intermináveis, tediosas e inconclusivas.
No final do dia, os fatos-e-gravatas entram nas suas caixas-de-metal-sobre-rodas, e voltam para as suas caixas-de-cimento para passar a noite. Por norma, comem mais um bife com ovo e batatas fritas e depois estendem-se no sofá, a olhar para uma caixa-preta, de onde saem imagens e sons alienantes e impregnados de superficialidade. Cinzento, tudo cinzento até que são horas de fechar os olhos e desligar a ficha para recarregar a bateria para o dia seguinte.
Ouve-se o alarme do despertador e de novo o ciclo repete-se,
excepto pelo facto de a gravata hoje ser de outra cor. Uma cor qualquer que
combine com cinzento.
Assim se passam dez, vinte, trinta anos e o único arco-íris
que aparece esporadicamente, acontece uma vez por ano, quando o fato-e-gravata
dá lugar aos calções-e-havaianas e ruma em direcção às praias de Punta Cana.
Num belo dia, tão cinzento como os outro, o fato-e-gravata
cai redondo no chão e ouvem-se ao longe as sirenes de uma ambulância. Vai a
caminho do hospital. Ao que parece o coração não aguentou tantos anos de
cinzento e teve um ataque.
Na cama de hospital, agora com a humildade de uma bata-aberta-atrás,
e sem qualquer roupa-interior. Respirando por um tubo e vendo a vida presa por
um fio que oscila a verde num monitor, o ex-fato-e-gravata pensa finalmente nos
seus dias cinzentos, e questiona se não haverá mesmo outras cores com que os
pintar.
O ex-fato-e-gravata quer agarrar-se a algo que o eleve daquele
leito com cheiro a morte mas não encontra nada. No mais recôndito da sua mente
passa apenas um filme mudo, entediante e em tons de cinzento.
O tempo! O que é que eu fiz com o tempo? - pergunta
finalmente em desespero. O tempo limitou-se a passar sem que ele o notasse até
ser tarde de mais.
E foi então que percebeu… a vida acontece-nos a cada
instante. A vida não pode ser adiada para usufruir mais tarde, quando der mais
jeito. É preciso estar presente no presente e em cada momento. Criar laços, dar
abraços, brincar… sorrir, divertir, chorar… E chora. Chora pela primeira vez
desde que tinha sete anos e esfolou um joelho. Já esquecera o sabor salgado das
lágrimas, que agora o faz sentir-se vivo como há muito não se sentia.
Ás vezes, a Vida não tem outra opção, a não ser atirar-nos
ao chão, para que lhe prestemos a devida atenção.
Alguns, ainda vão a tempo de se levantarem, outros, estão
tão danificados que se tornaram irrecuperáveis.
E tu? De que estás à espera para começar a viver?
Sê feliz,
Abraça a Vida!
Abraça a Vida!
Sem comentários:
Enviar um comentário